sábado, 14 de março de 2009

Um pouco da História da União

Em fins de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz de 17 anos de idade, de família conhecida e tradicional do bairro de Neves, em Niterói (atualmente, São Gonçalo), no Estado do Rio de Janeiro, se preparava para ingressar na Marinha.
O jovem foi acometido de mal que o deixou imobilizado e para o qual os médicos não encontravam a causa. Passado um tempo e tendo a família de tudo tentado sem sucesso, o jovem sentou-se a cama e anunciou que no dia seguinte estaria curado.
A falta de explicações para o estranho acontecimento levou a família, incentivada por um amigo, a levá-lo a centro kardecista, onde poderiam, talvez, encontrar as respostas para suas muitas dúvidas.
No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi levado a uma sessão na Federação Espírita de Niterói e convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa.
Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de quaisquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Saindo da sala foi ao jardim e retornou pouco depois com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme desconforto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns que participavam da corrente espíritos que se diziam pretos escravos e índios.
O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e convidando-os a se retirarem.
Novamente Zélio foi tomado por uma força estranha e passou a questionar o dirigente:
- Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor?
Os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido mas este desenvolvia uma argumentação segura.
Um médium vidente que participava da corrente perguntou:
- Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?
O espírito que Zélio incorporara, então respondeu??
- Se querem um nome, podem me chamar de Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados. E, se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.
O vidente perguntou com ironia:
- Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?.
O Caboclo respondeu:
- Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei. Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?
No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, próximo a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade das palavras daquela entidade; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação em outras vertentes espiritualistas.
A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus. O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.
A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos.
O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas praticando suas curas.
No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus.
Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.
A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda.
Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Jerônimo.
Em 1939, o Caboclo das Sete Encruzilhadas determinou que se fundasse uma federação (que posteriormente passou à denominação de União Espírita de Umbanda do Brasil, segundo relata Seleções de Umbanda n. º 7 1975) para congregar templos Umbandistas e que deveria ser o núcleo central desse culto,
A União Espiritista de Umbanda do Brasil (UEUB) é a mais antiga federação umbandista do Brasil, chamada por isso de Casa-Máter da Umbanda e foi fundada em 1939, no contexto no do Estado Novo, visando servir de interlocutora entre os diversos centros filiados, o Estado e a sociedade, a nível nacional

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